quarta-feira, 1 de junho de 2016

Um aforismo quarto-teórico contra o comunismo:


Agora é o nosso gosto que decide contra o cristianismo, não mais nossas razões, disse o homem que nasceu póstumo [1]. Desloquemos esta máxima em direção ao comunismo: é o nosso gosto que depõe contra ele, que nos afasta dele e nos repele da sua presença – e não nossas razões. É por sermos demasiadamente inclinados ao heroico, ao marcial, ao arcaico, ao belo e ao sublime que nos afastamos dele; é por amarmos as regiões longínquas do Mysterium e do Sagrado que o tomamos por desinteressante; são as nossas raízes folclóricas, a nossa disposição irresistível à nossa Terra e ao nosso Sangue que faz-nos rir de seus fins; é através das mil faces do nosso Übermensch – que ora se manifesta no percurso trágico do guerreiro, ora na via ascética e na gnose do santo – que rejeitamos o seu “Novo Homem” (assente sobre as energias infra-humanas da matéria!); é pelo reconhecimento do direito dos mortos – na perenidade dos nossos ancestrais – que abolimos de nosso meio o seu “progresso” e os seus “avanços”; são as energias vivificantes extraídas do nosso solo pela nossa casta de trabalhadores – pelos nossos produtores sedentários – a causa do nosso desdém e do nosso descaso à sua artificial “cultura proletária”.  
Esse é o nosso gosto: estes são os nossos apetites – esse é o nosso pathos e o nosso ethos. Esse também é o nosso argumento derradeiro (laopolítico e metapolítico) contra toda forma de comunismo e a única forma tolerável de anticomunismo.
 (I.S.) 
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[1] Nietzsche, F. A Gaia Ciência. Aforismo 132. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. A alusão é ao livro O Homem que Nasceu Póstumo, escrito pelo filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos acerca da vida e obra de Nietzsche. 

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