Agora é o nosso gosto que decide
contra o cristianismo, não mais nossas razões, disse o
homem que nasceu póstumo [1]. Desloquemos esta máxima em direção ao comunismo:
é o nosso gosto que depõe contra ele,
que nos afasta dele e nos repele da sua presença – e não nossas razões. É por
sermos demasiadamente inclinados ao heroico, ao marcial, ao arcaico, ao belo e
ao sublime que nos afastamos dele; é por amarmos as regiões longínquas do Mysterium e do Sagrado que o tomamos por
desinteressante; são as nossas raízes folclóricas, a nossa disposição irresistível
à nossa Terra e ao nosso Sangue que faz-nos rir de seus fins; é através das mil
faces do nosso Übermensch – que ora
se manifesta no percurso trágico do guerreiro, ora na via ascética e na gnose do santo – que rejeitamos o seu
“Novo Homem” (assente sobre as energias infra-humanas da matéria!); é pelo
reconhecimento do direito dos mortos
– na perenidade dos nossos ancestrais – que abolimos de nosso meio o seu “progresso”
e os seus “avanços”; são as energias vivificantes extraídas do nosso solo pela
nossa casta de trabalhadores – pelos nossos produtores
sedentários – a causa do nosso desdém e do nosso descaso à sua artificial
“cultura proletária”.
Esse
é o nosso gosto: estes são os nossos
apetites – esse é o nosso pathos e o
nosso ethos. Esse também é o nosso
argumento derradeiro (laopolítico e metapolítico) contra toda forma de comunismo e a única forma tolerável
de anticomunismo.
(I.S.)
-
[1] Nietzsche,
F. A Gaia Ciência. Aforismo 132. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012. A alusão é ao livro O Homem que Nasceu Póstumo, escrito pelo filósofo brasileiro Mário
Ferreira dos Santos acerca da vida e obra de Nietzsche.
Nenhum comentário:
Postar um comentário