quarta-feira, 11 de maio de 2016

Karl Marx - Crítica ao ethos judaico:


Fixemo-nos no judeu real que anda pelo mundo; não no judeu de sábado, como faz Bauer, mas no judeu quotidiano. Não busquemos o mistério do judeu em sua religião, mas, ao contrário, busquemos o mistério da religião no judeu real. 

 Qual é a base profana do judaísmo? A necessidade prática, o interesse egoísta. Qual é o culto mundano do judeu? A usura. Qual é o seu deus mundano? O dinheiro

 Então continuemos! A emancipação da usura e do dinheiro, isto é, do judaísmo prático, real, seria a auto-emancipação de nossa época. Uma organização social que acabasse com as premissas da usura e, portanto, com a possibilidade desta, tornaria impossível o judeu. Sua consciência religiosa seria dissolvida como um vapor insípido na atmosfera real, revigorante da sociedade. 
(...)
Desta forma, reconhecemos no judaísmo um elemento anti-social presente de caráter geral, que o desenvolvimento histórico - que conta com a zelosa colaboração dos judeus -, neste aspecto, se encarregou de levar até o apogeu em que hoje se encontra e a partir do qual tem que dissolver-se necessariamente. A emancipação dos judeus é, em última análise, a emancipação da humanidade do judaísmo. 

 O judeu já se emancipou à maneira judaica: 

"O judeu que em Viena, por exemplo, pouco mais é que tolerado, determina, com seu poder monetário, a sorte de todo o império. Um judeu que careça de direitos no menor dos estados alemães, decide a sorte da Europa. Enquanto as cooperações e os grêmios cerram suas portas ao judeu ou não se inclinam suficientemente até ele, a indústria, com intrepidez, ri-se da teimosia das instituições medievais" (B. Bauer, Judenfrage, p. 114)

 Este não é um fato isolado. O judeu se emancipou à maneira judaica não só ao apropriar-se do poder do dinheiro como, também, porque o dinheiro se converteu, através dele e à sua revelia, numa potência universal, e o espírito prático dos judeus no espírito prático dos povos cristãos. Os judeus se emanciparam na medida em que os cristãos se fizeram judeus. 
 (...)
 O judaísmo não se tem conservado apesar da história, mas por intermédio desta. A sociedade burguesa engendra constantemente o judeu em suas próprias entranhas. 

 Qual é o fundamento da religião judaica? A necessidade prática, o egoísmo. O monoteísmo do judeu é, portanto, na realidade, o politeísmo das muitas necessidades, um politeísmo que converte até mesmo o vaso sanitário em objeto da lei divina. A necessidade prática, o egoísmo, é o princípio da sociedade burguesa e se manifesta como tal em toda sua pureza da mesma maneira que a sociedade burguesa extrai totalmente de seu próprio seio o Estado político. 

O deus da necessidade prática e do egoísmo é o dinheiro. O dinheiro é o deus zeloso de Israel, diante do qual não pode legitimamente prevalecer nenhum outro deus. O dinheiro humilha todos os deuses do homem e os converte em mercadoria. O dinheiro é o valor geral de todas as coisas, constituído em si mesmo. Portanto, despojou o mundo inteiro de seu valor peculiar, tanto o mundo dos homens como a natureza. O dinheiro é a essência do trabalho e da existência do homem, alienada deste, e esta essência estranha o domina e é adorada por ele. 

 O deus dos judeus se secularizou, converteu-se em deus universal. A letra de câmbio é o deus real do judeu. Seu deus é somente a letra de câmbio ilusória. 
(...) 
 A nacionalidade quimérica do judeu é a nacionalidade do negociante, do homem de dinheiro em geral. 
(...) 
 O fato de a essência real do judeu realizar-se e ter-se realizado de modo geral, na sociedade burguesa, explica por que esta mesma sociedade não pôde convencer o judeu da irrealidade de sua essência religiosa, que não é, cabalmente, senão a concepção ideal da necessidade prática. Não será, por conseguinte, no Pentateuco ou no Talmude, mas na sociedade atual que iremos encontrar a essência do judeu de hoje, do judeu que não mais se apresenta como aquele ser abstrato, senão como um ser altamente empírico, do mesmo modo que é na sociedade de nossos dias que se encontra a limitação do judeu e a limitação judaica da sociedade. O judeu se tornará impossível tão logo a sociedade consiga acabar com a essência empírica do judaísmo, com a usura e suas premissas. O judeu será impossível porque sua consciência carecerá de objeto, porque a base subjetiva do judaísmo, a necessidade prática, se terá humanizado, porque se terá superado o conflito entre a existência individual-sensível e a existência genérica dó homem. 

 A emancipação social do judeu é a emancipação da sociedade do judaísmo.

(Karl, Marx. Manuscritos Filosóficos e Econômicos. São Paulo: Martin Claret, 2001).

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