quarta-feira, 18 de maio de 2016

Friedrich Engels - A consequência da imigração na taxa de salário:



«Esses trabalhadores irlandeses, que pagam quatro pence para serem transportados – amontoados como gado na ponte do navio – para a Inglaterra, instalam-se em todas as partes. As piores habitações são, para eles, boas; não se preocupam com suas roupas, por mais esfarrapadas que estejam; desconhecem o uso de sapatos; as batatas constituem seu único alimento; o que sobra do que ganham, gastam em bebida. Por que essa gente precisaria de um salário alto? Em todas as grandes cidades, os irlandeses vivem nos piores bairros – onde quer que um bairro se distinga particularmente pela sujeira e pela ruína, pode-se ter a certeza de encontrar sobretudo esses rostos celtas, que à primeira vista se diferenciam das fisionomias saxônicas nativas, e de ouvir a cantilena dialetal e aspirada, com o sotaque que o verdadeiro irlandês nunca perde. Inúmeras vezes aconteceu-me ouvir falar o céltico-irlandês nos bairros mais populosos de Manchester. A maior parte das famílias que moram nos porões é, quase sempre, de origem irlandesa. Em resumo, como observa o doutor Kay, os irlandeses descobriram o que é o mínimo de necessidades vitais e o vão ensinando aos operários ingleses. Trouxeram consigo a falta de higiene e o alcoolismo.
(...)
É contra esse concorrente que é obrigado a competir o operário inglês: um concorrente que ocupa o lugar mais baixo da escala social que pode existir num país civilizado e que, por isso, contenta-se com um salário inferior ao de qualquer outro trabalhador.  Por isso, é inevitável, como Carlyle observou, que o salário do trabalhador inglês seja sempre mais reduzido em todos os setores em que o irlandês possa concorrer com ele. E tais setores são inúmeros: todos aqueles em que se exige pouca ou nenhuma habilidade. É verdade que o irlandês – instável, volúvel e beberrão – tem dificuldades para adaptar-se a trabalhos que exigem uma aprendizagem mais longa e a atividades mais regulares e constantes. Para tornar-se um operário-mecânico (na Inglaterra, todo trabalhador ocupado na fabricação de máquinas é um mechanic), ele teria, antes de mais nada, de assimilar a civilização e os costumes ingleses – em suma, deveria tornar-se substantivamente inglês. Mas em qualquer trabalho simples, menos preciso, que requeira mais força que habilidade, o irlandês é tão bom quanto o inglês. Por isso, justamente tais setores de trabalho foram invadidos pelos irlandeses, que se tornaram sobretudo tecelões manuais, serventes de pedreiro, carregadores, jobbers etc. e essa invasão contribuiu muito para reduzir os salários e aviltar o nível de vida dos trabalhadores».

(Friedrich, Engels. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010).

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